“É crucial promover o bem-estar mental”

Psicóloga Cristina Cabral Coimbra

A psicóloga clínica e da saúde e psicoterapeuta Cristina Cabral é a diretora clínica de três espaços dedicados à Psicologia, à Psicoterapia e à Saúde Mental e adverte que é necessário investir rapidamente no reconhecimento da importância da Saúde Mental para uma vida plena, estando Portugal, atualmente, na terceira posição no que respeita aos países da Europa com a maior taxa de prevalência de depressão.

Que conselhos pode deixar para que seja possível identificar, ao próprio ou a um familiar próximo, qualquer problema relacionado com a saúde mental?

Eu defendo sempre que apostar na prevenção, através de campanhas pedagógicas e de sensibilização, para promover o bem-estar emocional e mental desde as primeiras fases da vida, é fundamental e prioritário. Existem algumas dicas ou conselhos que poderão ajudar a identificar um problema mental em nós ou num familiar próximo. Em primeiro lugar, devemos estar mais atentos e mais disponíveis para cuidar de nós e dos outros, promovendo o diálogo e tendo mais momentos em família com qualidade. Desta forma, permitimo-nos prestar mais atenção a sinais e sintomas, como grandes mudanças de humor, irritabilidade constante, alteração do sono e no apetite, mudanças repentinas de comportamento (como falta de interesse em atividades de que antes se gostava), isolamento social, dificuldades de concentração ou memória, que são critérios que poderão preencher os requisitos para um problema mental. É igualmente importante reforçar a atenção a alterações de comportamento, como se se falar em suicídio; comportamentos aditivos, como abuso de alguma substância ou comportamentos agressivos. É de salientar a importância da empatia e escutar e conversar sem julgar, para chegarem à conclusão que é primordial pedir ajuda de um profissional especializado na área da saúde mental, que poderá serum psicólogo ou psiquiatra.

A saúde mental não é uma área clínica à qual seja fácil e rápido ter acesso. Quais os desafios que, a seu ver, importa resolver rapidamente para responder atempadamente a mais pessoas que procuram ajuda?

Fundamentando a necessidade de algumas medidas urgentes no âmbito da saúde mental, importa salientar que, excluindo as doenças causadas por fatores biológicos, como infeções, lesões, desequilíbrios hormonais ou
genéticos; ou doenças com causas ambientais ou comportamentais, como exposição a toxinas, maus hábitos alimentares, inatividade física e tabagismo; todas as outras têm origem na mente. Logo, é relevante considerar a conjugação de todos estes fatores e perceber finalmente a extrema importância da saúde mental na vida das pessoas.

Deverá haver uma prioridade numa política de investimento na saúde mental em Portugal: elegendo um conjunto de medidas para a promoção, benefício e melhoramento desta saúde, apostando na prevenção. A
implementação de programas e estratégias que levam a um bem-estar emocional e mental desde cedo, com programas de prevenção nas escolas e nas comunidades mais vulneráveis que podem educar sobre a
importância da saúde mental, ensinar habilidades de resiliência emocional e oferecer suporte adequado para lidar com o stress e frustração e outras questões emocionais;

Reduzir o estigma em torno dos problemas da saúde mental: o estigma em torno da saúde mental é um obstáculo gigante e significativo para as pessoas que precisam de ajuda. Devem ser feitos esforços para uma
educação pública sobre a natureza dos problemas de saúde mental, desconstruir estereótipos negativos e promover a aceitação e inclusão de pessoas que enfrentam estes problemas;

Melhorar o acesso aos cuidados de saúde mental: a maioria das pessoas enfrenta barreiras no acesso aos cuidados de saúde mental. O primeiro que se coloca é o custo; depois, a localização e o estigma em torno destes
serviços. Será importante rever políticas de investimento na área da saúde, para haver maior justiça social e de saúde, tornando-os acessíveis a qualquer pessoa de diferentes estratos sociais.

Tratamento integrado: uma abordagem integrada e multidisciplinar para o tratamento da saúde mental será muito benéfica e de extrema importância, especialmente para pessoas que têm comorbilidades, como perturbações de ansiedade e doenças cardíacas, diabetes, hipertensão, entre outras. Um tratamento integrado, adaptado e individualizado faz a diferença e ajuda a melhorar a saúde mental em geral, para além de promover a saúde física e bem-estar geral do indivíduo.

Ainda outra forma de olharmos para a saúde mental como um todo e integrada é estarmos atentos ao estudo da neurociência, em que este refere que não podemos separar o corpo físico, mental, emocional e o espiritual. O estudo destaca que a emoção influencia o corpo e a mente, assim como a mente influencia as emoções e o nosso corpo físico. Da mesma forma, a espiritualidade pode ter um papel significativo na saúde mental e física, afetando os nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos. A minha opinião, e estando completamente de acordo com esta pesquisa, é que devemos pensar na saúde mental segundo uma abordagem holística, considerando estes quatro aspetos de forma integrada. O estudo da neurociência tem muito a contribuir para esta compreensão integrada do ser humano e na obtenção de um equilíbrio da saúde em geral e que só poderá acontecer com financiamento.

Investimento na pesquisa e investigação: a investigação é primordial para o avanço dos cuidados de saúde mental e deve ser apoiada e financiada. Deverá haver um empenho e um real interesse por parte dos nossos governantes políticos na formulação de políticas públicas e conhecimento científico que levem em consideração as necessidades da população portuguesa. Isso envolve a criação de sistemas de saúde mental acessíveis e de qualidade, com políticas de prevenção e desenvolvimento de abordagens e tratamentos eficazes para as perturbações mentais.

Portanto, é fundamental a existência de investimento contínuo em recursos, formação e capacitação dos profissionais de saúde, planos de inovação, reconhecimento de novas terapias para podermos evoluir na prevenção, diagnóstico e tratamento, reduzindo o estigma e a discriminação associados a estes transtornos e assim contribuir para o melhoramento e diferenciação da saúde mental em Portugal.