A Psicologia Clínica

A Psicologia Clínica

A psicologia clínica é uma vertente da psicologia especializada no desenvolvimento e aplicação das técnicas terapêuticas e de diagnóstico, para a identificação e tratamento dos distúrbios comportamentais.

Esta ciência visa sempre a individualidade do sujeito, a sua especificidade, procurando explicar o seu funcionamento psicológico como um todo. Considera e encara a conduta do indivíduo na sua perspetiva particular, fazendo o levantamento, tão fiel quanto possível, das maneiras de ser e de reagir dos indivíduos numa determinada situação, procurando estabelecer o seu sentido e a sua génese (origem) e descobrir os conflitos que os motivam e os meios tendentes a resolvê-los. Interessa-se particularmente pelos aspetos afetivos do sujeito.

Em suma, os psicólogos clínicos têm como objetivo a realização de todo o programa da psicologia clínica, isto é, tentam pôr em prática o que esta perspetiva estuda e defende.

O método de eleição desta psicologia é, como o próprio nome indica, o método clínico que se caracteriza mais pela atitude do psicólogo, do que pela utilização de processos ou técnicas específicas.

O objetivo principal do método clínico é diagnosticar a causa de uma perturbação e encontrar uma solução para o seu tratamento, através do seu único instrumento próprio, a entrevista clínica, e através de uma variedade de técnicas proporcionadas pelas ciências “vizinhas”, tal como a utilização do método dos testes (psicometria), das técnicas projetivas (psicanálise) e do método da observação utilizado pelos mais diversos ramos da psicologia.

A entrevista clínica procura o “encontro” do psicólogo com o indivíduo, proporcionando uma observação direta dos comportamentos do sujeito e dos seus diferentes modos de reação.

Ela é formada por um conjunto de consultas (sessões), ao longo das quais se pretende realizar a história do sujeito.

A história clínica de um sujeito é composta por imensos elementos, tais como: a identificação pessoal do sujeito (nome, morada, ocupação, etc.); a queixa principal (motivo da consulta); a história da doença que o leva à consulta e das doenças anteriores (mesmo que não sejam do foro psicológico, o psicólogo tem que ter conhecimento da saúde global do seu paciente); a sua história sexual e conjugal; a sua situação social e sistema de valores; e, em geral, a sua história familiar (tipo de relacionamentos, doenças comuns na família, etc.).

Para além da história do sujeito fornecida por ele próprio e pelo testemunho daqueles que com ele convivem, há também a necessidade de utilizar a introspeção (descrição das suas próprias experiências, sentimentos e conflitos) para obter as confidências espontâneas e provocadas que ajudarão na leitura e análise clínica da problemática do indivíduo.

O psicólogo clínico, ao longo das consultas, terá também de prestar atenção à descrição geral do sujeito, ou seja, à sua aparência, às suas expressões corporais e faciais, à forma como se movimenta e comunica, à sua atitude perante o psicólogo, ao seu tipo de humor e, em geral, a tudo que caracterize o indivíduo, tendo como objetivo um mais fácil e rápido diagnóstico e tratamento.

Durante as consultas poderão ser realizados alguns testes, provocando no sujeito determinados comportamentos e respostas, de forma a fixar ou excluir as possíveis desconfianças de diagnóstico. Os testes poderão demonstrar claramente as dificuldades que o doente sente e reclama.

Os testes psicológicos utilizados durante o processo, podem ser os mais variados. Por exemplo, o psicólogo pode recorrer à passagem de um teste de inteligência ou de personalidade ou de escalas de depressão ou de ansiedade.

Pode-se assim dizer que a psicologia clínica serve-se de um conjunto organizado de estratégias que permitem chegar a uma explicação ou, pelo menos, a hipóteses objetivas, que possam reconduzir o sujeito à sua vivência normal e adaptada.

Registe-se que todo o processo da entrevista clínica é levado a cabo na mais completa privacidade e encarado como um processo confidencial.

Nesta prática clínica, o tipo de psicoterapia depende da especialização do psicólogo clínico. Este pode ser um profissional da psicanálise (ciência que assenta na interpretação do inconsciente) ou, por exemplo, ser um especialista da psicologia comportamental (que se baseia na aplicação dos princípios e técnicas de aprendizagem).

Os psicólogos clínicos entram cada vez mais ao serviço da área hospitalar. Um serviço de psicologia clínica proporciona aos psicólogos clínicos, que nele trabalham, a realização de intervenções específicas nos serviços de psiquiatria, de reabilitação, de alcoologia, no hospital de dia e em todos os outros serviços, desde que seja solicitada a sua especialidade. Permite dar consultas na área da consulta externa, do internamento e da reabilitação, que podem ser individuais, em grupo ou em família.

Diariamente, o psicólogo dá consultas (individuais ou em grupo), faz avaliações e exames psicológicos (por indicação direta ou por solicitação de outros serviços), realiza psicoterapias, elabora relatórios médicos de observação psicológica, exerce atividades nos laboratórios de psicologia (de psicometria, de investigação, etc.) e dá apoio às equipas clínicas, no que diz respeito à análise e discussão de casos, bem como na planificação e execução de programas de ação a desenvolver na instituição hospitalar.